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Foto do escritorLuciana Garcia

Acessibilidade e eleições municipais.


uma mão com dedo apontado seleciona entre diversas telas a imagem de uma pessoa que é possivelmente candidato, como se estivesse numa urna eletrônica.
Cadê as propostas municipais para melhorar a cidade para todos?


Domingo é aquele temido dia onde temos que escolher uma roupa no armário mesmo que nenhuma delas nos sirva. A analogia serve pra falar sobre a dura tarefa de escolher candidatos aos cargos de prefeito e vereador. Quinta-feira, acompanhei o último debate dos candidatos a prefeitura de São Paulo – o maior colégio eleitoral do Brasil. Esperava uma discussão séria e comprometida com propostas claras e uma troca de ideias de alto nível (a iludida). As pautas Pcd nem passaram perto das bancadas.


O tema está na moda, garante votos, e ignorá-lo faz com que o candidato  pareça frio e insensível.

Em tempos de campanha eleitoral municipal, os candidatos por todo o país (assessorados por uma grande equipe de marketeiros e estrategistas políticos) lançam propostas para a inclusão e acessibilidade. O tema está na moda, garante votos, e ignorá-lo faz com que o candidato  pareça frio e insensível. Curioso é que, quando olhamos para as pretensas propostas, o que vemos corriqueiramente é melhoria de calçadas e assistência escolar para autistas.



Ninguém está muito preocupado em entrar diretamente no assunto, com medo de cometer deslizes graves – já que a maioria não tem a menor intimidade com o tema.

Acredita-se (imagino eu aqui) que um ou dois tópicos pontuais sejam suficientes para mostrar que o candidato tem propostas e se preocupa com a pauta. Ninguém está muito preocupado em entrar diretamente no assunto, com medo de cometer deslizes graves – já que a maioria não tem a menor intimidade com o tema. Propõe-se a melhoria de calçadas, linhas de ônibus mais acessíveis... e só. Esquecem-se que a diversidade é diversa, que as demandas do público Pcd são infinitas e que não se restringme ao que já é público e notório.


Não tive conhecimento de nenhum candidato até hoje que se propôs a olhar para o modelo social de deficiência e, a partir dele, traçar estratégias que engajem TODA A SOCIEDADE na mudança.


É muito bom saber que fazemos barulho suficiente para que entendam a nossa relevância. Mas isto só não basta. Cadê os projetos de capacitação para o mercado de trabalho? Cadê as estratégias para viabilizar a mãe atípica que trabalhe e dê um futuro melhor para sua família? Cadê os programas de incentivo para que o comércio receba o público Pcd de maneira acessível? Cadê os cursos de capacitação para que os professores realmente conheçam e entendam das necessidades das pessoas com deficiência e transtornos do neurodesenvolvimento?  Passe livre e rampa de acesso, no meu ponto de vista é esmola. A população Pcd consome, paga impostos e precisa que nós, no âmbito municipal, sejamos capazes de construir e pensar ações para melhorar a vida dessa população (que inclusive vota, viu candidato?!).


Em São Paulo, a população com deficiência somada a pessoas com transtornos do neurodesenvolvimento soma uma quantia que ultrapassa a marca de 1 milhão de pessoas. Para se ter um comparativo, não há, no estado de Santa Catarina, por exemplo, nenhum município cuja população total seja de 1 milhão de habitantes. É, portanto, muita gente sendo ignorada. Aqui também é importante destacar que promessas de campanha são apenas promessas, e decretos e leis são só um amontoados de letras com palavras de difícil compreensão se não colocarmos isso em prática.


Quanto mais simples e fácil de entender [a linguagem], melhor seria.

Outro ponto que chama a atenção é a linguagem rebuscada e termos que alguns candidatos ainda insistem em utilizar. Notoriamente uma estratégia para afastar a população menos favorecida da total compreensão da mensagem, esse tipo de comunicação também tem impacto na população com deficiência intelectual (DI). Por isso quanto mais simples e fácil de entender, melhor seria. Não é o que acontece. No lugar de propostas e linguagem acessível, o show foi de ataques e ofensas. Fica apenas a sensação de, independente de quem ganhar (como diria a tal presidenta), vai todo mundo perder.

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