Gente, para tudo! Volta que deu merda. Mil desculpas a todos os envolvidos, mas não estamos sabendo lidar com o privilégio de ter o melhor cérebro do planeta terra. Por onde eu devo começar?! Nem sei mais. Estamos praticando tantas atrocidades, tantos absurdos e tantas incoerências, que me perco... desculpem, também sou uma de nós.
Ah, lembrei! Semana passada li uma notícia de que certa influencer veio a falecer em decorrência de problemas causados por uma lipoaspiração. Preciso começar lembrando que, para você influenciar de fato alguém, é preciso que você seja capaz de ditar tendências. Não era o caso. Então cá estamos nós, seres humanos, conferindo um título de influencer a alguém que (meus mais profundos sentimentos à família) influenciava de fato pouca gente. Mas esse nem é o tema central deste texto. E percebam que aqui a minha crítica não é à moça, mas ao jornalismo. A despeito da imprensa tratar o fato como “notícia”, ainda que o mesmo nada tenha de noticioso; note:
Notícia (substantivo, feminino) – relato à informação sobre um acontecimento, um fato real ou novas mudanças; informação. Algo ou alguém que se destaca, chama a atenção.
No jornalismo, os critérios (pretensos) pra que um assunto ou tema seja tratado como notícia seriam:
Novidade – algo inédito, que está acontecendo pela primeira vez;
Proximidade – algo próximo, que se relaciona com a minha realidade;
Tamanho – algo que aconteceu ou afetou um grande número de pessoas ou localidades;
Relevância – o quanto isso se destaca dos acontecimentos normais e rotineiros.
A somatória desses fatores faz com que a notícia seja mais ou menos interessante, relevante ou digna de ser noticiada.
Voltando. Não é de hoje que a “lipo” deixa suas vítimas mundo afora. (Lembrando que lipoaspiração é uma intervenção cirúrgica que, como qualquer intervenção cirúrgica tem seus riscos e probabilidades de dar errado.
- Mas Luciana, o médico disse que é um procedimento simples!
- Sim, é muito simples! Basta dizer que ele faz mais de 3 num único dia e não sente nada!
Dito isso, voltarei – prometo – finalmente ao tema. Quem entendeu, entendeu, quem não entendeu.... volte).
Não é novidade pra ninguém que toda hora morre alguém em mesa de cirurgia. A tradução literal de cirurgia eletiva inclusive que dizer: o risco é todo de quem escolheu fazer. Mas vamos lá. A tal matéria "jornalística" a que me refiro neste artigo fala do caso da moça (linda!) de apenas 26 anos que morreu deixando um filho de 7 anos. Eu, particularmente, tenho 40 anos, nenhum filho, e uma barriga maior que a dela. E é justamente aí que eu quero chegar: em que momento da nossa existência altamente superficializada nós decidimos que alguma quantidade mínima de tecido adiposo era ruim ao ponto de nos deitarmos numa mesa de hospital e esperar por um aspirador de gordura que nos entupisse de bactérias causando a morte? Tá tudo errado.
Essa é mais uma prova de que fracassamos enquanto sociedade. Recentemente descobri que o canal de tv a cabo History Channel tem um programa chamado “Alienígenas do passado”. Adorei o nome! Se há realmente vida inteligente lá fora, eles são do passado. No máximo, a vida inteligente extraterrestre se aproxima da Terra, dá uma olhada an passant e diz: “nah, não vale a pena”. Estamos nos tornando uma civilização que vive algemada por telas, que patrulham a vida alheia não para repreender os outros (sim, isso também), mas para repreender a si mesmos. Acho que já contei essa história aqui, mas não custa relembrar... uma vez me orientaram a fazer uma cirurgia bucomaxilofacial quando atuava intensamente como atriz de publicidade para redução da minha gengiva. Sim, eu cheguei a considerar essa possibilidade. Mas depois de refletir um pouco sobre o assunto (sobretudo agora, com certo distanciamento do fato) eu fico me perguntando: quantos comerciais a mais eu iria pegar com meio centímetro a menos de gengiva? Isso ia aumentar o meu faturamento mensal em quantos por cento? Esse suposto aumento pagaria o valor da cirurgia? E compensaria também a necessidade de uma segunda cirurgia em 10 anos? E isso seria assim tão incrível que valeria a pena correr todos os riscos?
Meninas, eu sei que tá difícil não olhar pra todos os lados e só ver corpos maravilhosos pretensamente melhor que os nossos. Mas se não é pelo caminho do empoderamento, vamos pelo caminho da matemática: essa conta que eu mostrei ali em cima realmente fecha? Tá tudo errado! O jornalismo tá errado na abordagem, as redes sociais estão erradas com seus algoritmos, nós estamos erradas de ficar seguindo e olhando essas pessoas e coisas. Certos estão mesmo os ETs de não descerem aqui.
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