As pessoas que vão estudar tecnologia no Vale do Silício tem voltado de lá decepcionadas, porque tiveram 3 meses de aula de antropologia. Pra quê estudar antropologia? - a realidade é que não basta apenas aprender uma ferramenta. Antes de tudo é preciso aprender a SER humano.
Com essa e outras verdades, padre Wesley Macedo me brindou com uma live riquíssima de conteúdo na primeira entrevista da série “Vocação e Protagonismo” que estreei ontem no meu canal do IGTV (@alucianagarcia). Com essa série, que vai ter uma entrevista por semana, estou interessada em falar sobre caminhos, e não sobre destino. Quando falamos de profissão, o que se pensa geralmente é naquele prêmio de profissional do ano que você pode eventualmente ganhar um dia, na promoção que te tornará CEO de qualquer coisa, e não nos intermináveis dias que precedem tudo isso. O que muita gente não se dá conta é que são esses dias que realmente importam.
Quando minha prima fez 15 anos e nos reunimos todos na casa de sua mãe para
a celebração do seu debut, um tio adentrou a sala e disse: “o melhor da festa é esperar por ela!” - eu tinha na época 17 anos e já tinha participado de uma meia dúzia de festas como aquela. Pensei na hora: quanta sabedoria! Fiquei pensando no tempo em que
a prima havia pensado, sonhado e se preparado para aquela festa. Se fosse longa,
a comemoração duraria seis, sete horas no máximo. Já os preparativos, para ela, haviam começado lá pelos seus 12 anos - quando sonhava em ser mocinha e poder sair de casa mais amiúde. No ano em que ela completara seus 15, imagine quantos preparativos: decidir o vestido, os convidados, o local da festa, o que servir, etc, etc, etc.
Talvez você esteja agora imaginando que tudo isso é muito pertinente mas nada tem a ver com o tema inicial da nossa conversa. Pois tem sim. Imagine que minha prima tenha ficado tão compenetrada no seu objetivo final (a festa dos 15) que não tenha dado muita atenção aos preparativos. A probabilidade deste dia ficar muito abaixo de suas expectativas seria muito grande, pois quando chegasse a tal data ela descobriria que, talvez, muita gente que estava lá não era realmente quem ela gostaria que estivesse, que a comida servida não era do seu agrado, que o vestido não era assim tão bonito, que
o sapato apertava demais. Que desastre!
Estou interessada em falar sobre caminhos, não sobre destino. O caminho é uma destinação em si.
Mal comparado, é exatamente isso que costuma acontecer com quem não sabe aproveitar o caminho no seu campo profissional. E voltando ao estudante do Vale do Silício, mal sabe ele o quanto a antropologia vai ajudá-lo em sua carreira. Isso porque, independentemente da sua área de atuação, antes de se tornar “craque” em qualquer coisa, é preciso primeiro se formar humano. Sim, por mais estranho que isso possa parecer, o indivíduo necessita de uma formação para ser dito humano. Nascemos animais-humanos. (E etimologicamente não há uma diferenciação nas palavras que estou empregando aqui, mas na prática descobrimos que há). No decorrer da nossa vida, precisamos nos desapegar deste “animal” e investir em aptidões sociais, morais e culturais para só então ser de fato humano.
'Há uma grande diferença entre um ser humano e ser um humano' - a maioria das pessoas não se dá conta disso.
No meu bate-papo com pe. Wesley, conversávamos justamente sobre isso. Sobre a escassez de “humanidade” que encontramos hoje por aí. Escassez essa que fez com que “humano” se tornasse um elogio. - Nossa, fulano é tão humano! - mas não somos todos?! Pois é... O tempo vai passando e vamos nos dando conta de que não. Nesta acepção da palavra, humano é alguém que é gentil, educado, que tem valores morais e éticos bem estabelecidos, que é capaz de desprender empatia para com os outros, alguém que tem bem trabalhada as chamadas soft skills. Isso, não vem instalado na nossa programação. Não está disponível na app store para download gratuito. Precisa ser aprendido. Como na atualidade ensinar é função da escola (e na grade curricular do primeiro e segundo grau não consta Humanologia), as formações mais especializadas estão percebendo, cada dia mais, que para formar líderes e profissionais incríveis, precisam ensinar coisas que outrora aprendíamos dentro de casa, de nossos pais e da oralidade da sabedoria ancestral.
O papo foi incrível! A despeito de qualquer crença religiosa, o padre é uma pessoa muito culta, descolada e perspicaz, e nos brindou com quase 60 minutos de muito conhecimento. Te convido a dar um pulo lá assistir, se inscrever e acompanhar as próximas.
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