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Foto do escritorLuciana Garcia

Peso e Leveza - parte 2


No dia seguinte, na aula de teatro, comecei a conversar com uma colega que tinha emagrecido bastante ao longo do ano. Ela era bailarina e teve um problema no joelho. Então se ela não perdesse um pouco de peso, ia ser complicado pra ela dançar, porque talvez precisasse operar o joelho de novo.

Os bailarinos precisam de leveza. Não era o meu caso, o meu joelho tava ótimo! Rs... Mas ela me contou que tava indo numa médica e eu pedi o contato dela. Eu tinha chegado a conclusão de que essa ideia de leveza que as revistas de dieta vendiam era balela, que pra emagrecer de verdade teria que ser à base de remédio mesmo. Quando cheguei na médica e contei a minha história, ela me disse que minha colega tinha perdido sei lá, quatro quilos em seis meses. Eu disse pra ela que não tinha esse tempo. Eu forcei a barra, eu confesso. Então comecei a tomar uma quantidade absurda de anfetamina, que me deu uma disposição surreal e me fiz perder 10 kg em dois meses, não importava o que eu comia. Queria parar de tomar

o remédio, porque já tinha cumprido a minha meta, mas a médica não deixou. Você não pode parar de tomar anfetamina de uma hora pra outra, os riscos são muito sérios, tem que fazer um desmame. Mas eu não tinha dinheiro, nem tempo, e achava que a médica queria me explorar e parei por conta. Comecei a diminuir a medicação da minha cabeça e um belo dia simplesmente parei de tomar. Foi então que eu fiquei anoréxica. E junto com isso veio a síndrome do pânico. Eu cheguei a pesar 33kg - ninguém me reconhecia mais. Veja bem: não tem nada de errado em você pesar 33kg se esse for o seu biotipo; não era

o caso. Antes de passar por tudo isso, eu pensava que anorexia era coisa de gente superficial, vazia, prostrada. Só quando eu vivi tudo isso que eu fui entender a sua voracidade. Eu estava morrendo. O meu cabelo estava caindo, as minhas gengivas estavam sangrando, eu estava só pele e osso, mas me achava linda. E sempre que alguém vinha me dizer que eu estava muito magra, eu dizia que era inveja, que agora eu podia usar todas as roupas que eu sempre quis usar, blábláblá. Eu estava desaparecendo.

O que eu não me dava conta, é que viver desaparecendo é uma forma de suicídio. Emagrecer de maneira doentia é uma forma de ir morrendo e pela primeira vez ter dos outros uma atenção que você nunca teve. As pessoas a sua volta ficam velando uma pessoa que está viva - que é você - e você não consegue perceber. É preciso algo muito forte pra te fazer acordar desse pesadelo. Eu não sentia fome, eu cheguei a ficar três dias sem comer absolutamente nada, só tomando café e coca-zero. A um ponto em que realmente a comida não passava mais pela minha garganta. Ironicamente, me alimentar era algo violento, uma violência contra o meu próprio corpo que tanto precisava daquele alimento. E eu não conseguia sair na rua nem ficar sozinha em casa por causa do pânico. Tentei me matar algumas vezes. Qualquer coisa era melhor do que continuar sentindo aquela dor.


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