É muito trabalho pra fazer, é muita coisa pra organizar, é o olho que arde de ficar olhando pra tela o dia inteiro, são as costas que doem de tanto ficar na mesma posição, é o corpo que reclama de todo esse tempo sem ir na academia, é a aula de yoga online que pinça aquele nervo que não deveria… a calça que não serve, o cabelo que tá sem corte… aff! É tanta coisa que a gente tem pra reclamar que ficaríamos aqui um dia inteiro. Mas isso não leva a gente a lugar nenhum.
A verdade é que reclamamos pra colocar algo no lugar desse sentimento de frustração que nos invade cada vez em que alguma coisa sai do nosso controle. A sociedade de hoje programa a gente pra controlar tudo. É o despertador na hora que acorda, a hora de começar a trabalhar, as refeições que precisam estar equilibradas ao longo do dia. E tem também que equilibrar lazer, trabalho, saúde e obrigações e interesses pessoais. Isso sem falar na devida atenção à familiares e amigos, aqueles tantos amigos que moram longe e que vez ou outra nos cobram uma visita. Definitivamente os romanos estavam certos: in medio stat virtus (a virtude está no meio).
Saber conduzir as coisas de maneira razoável, mediana, adequada, regrada, são virtudes invejadas por 11 entre 10 pessoas neste planeta. Mas como é difícil!!! Então nos dedicamos intensamente à arte de reclamar, porque a reclamação em algum lugar dentro da nossa cabeça é uma ação. O ato de reclamar nos coloca em rota de colisão com a fúria no enfrentamento de tudo que nos descontenta. E o fruto disto tudo é: nada. Um lindo e dissílabo nada.
O curioso disso tudo é que jogamos em cima de nós mesmas uma carga de pressão absurda que não nos ajuda a progredir. Pior: se você transfere essa chateação pra frente, se você passa horas fingindo que tá trabalhando pra provar pra si mesma que pode, que faz e acontece, que é a dona da porra toda, a única coisa que você está verdadeiramente fazendo é aumentando o seu desconforto. Amanhã começa um novo dia e é bom que ele comece verdadeiramente do zero, sem esse peso e essa culpa do dia anterior.
Por isso sugiro (das entranhas do meu ser, eu sugiro acreditando profundamente nisso), que quando este “dia de fúria” se instaurar na sua vida, você se acolha um pouco. Sim, se acolha. Tome um banho demorado no meio da tarde, bote o pijama, faça um chá e passe o dia todo fazendo apenas o que te faz bem. É ilusão a gente achar que porque precisa trabalhar vai conseguir produzir alguma coisa de bom num bad hair day. Então se você pode, se você trabalha a partir de casa, faça isso. Se não puder, seja boa com você de outra forma. Seja criativa! Comer um pedaço daquele chocolate que você adora pode ser uma maneira de ser carinhosa com você. Voltar pra casa de uber, ao invés de se espremer na lata de sardinha que é o transporte público na hora do rush também é uma opção (é só um dia, vai…). Use a sua criatividade para acolher o seu espírito e dizer pra você mesma que você tem valor. Este autoabraço é o que de melhor podemos fazer por nós nesses momentos.
E como esse texto de hoje é sobre auto acolhimento, não posso sair sem falar que o seu corpo é lindo e perfeito, e que você precisa amá-lo e respeitá-lo sempre, pois ele é a única verdadeira morada que você tem nessa vida. Se acolha, aceite os seus “defeitos” e entenda que a imperfeição faz parte da vida, do cosmos, do universo. To bem holística hoje, né?! Mas, assim como sugiro lá em cima, amanhã é outro dia e já voltaremos a nossa programação normal😉.
📸 Foto: Tira Chardz
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